Processo de criação é parte da obra.
“Expor é encontrar aliados na luta”
Edouard Manet
Eu poderia, simplesmente, apresentar o resultado dos trabalhos em uma exposição, catálogo, website ou em um post nas Redes Sociais. Porém, desde que comecei a estudar processos de criação aprendi que a obra que vemos exposta em Mostras de arte é uma das etapas de um longo período dedicado ao trabalho.
E as outras riquíssimas fases da criação, porquê não gera o mesmo interesse para o público?
Não quero propor discussões sobre o papel da arte e suas idiossincrasias, mas desejo sim abrir um espaço onde, através do meu trabalho, das parcerias que desenvolvo com fotógrafos e artistas, em diversos lugares do Brasil e exterior; possa compartilhar o percurso sistemático entre: ter a ideia, amadurecê-la, fundamentá-la em pesquisa e teoria; buscar recursos; trabalho – muito trabalho; desvios… muitos desvios que o projeto sofre e entrega ao público.
Um curador Suíço que gosto muito, Hans Ulrich Obrist, desenvolveu um hábito que acho formidável. Ele, um fiel peregrino aos lugares onde os artistas criam (ou parte da criação), visitou ateliês e pediu que os artistas falassem sobre projetos que não tinham conseguido, por uma razão ou outra, viabilizar. A partir dos relatos que recebia criaram maneiras de resgatar as obras que nunca tinham sido materializada e deu o nome de “Unbuilt Roads”, 1997.
Que ótimo exemplo para se pensar no percurso e importância que um trabalho artístico tem. Processos interrompidos também são uma parte importante da história. É verdade que ideias engavetadas reverberam em outras produções, isso também é um documento de processo.
Quero, neste espaço, falar sobre as histórias em torno de um trabalho que realizo. São muitas histórias e não gostaria que ficassem perdidas.
A ideia do blog, algo quase em desuso aqui, em 2019, quando escrevo estas linhas, apareceu da demanda de uma residência artística em Oaxaca, México, onde o Instituto que me recebe, solicita, como forma de contrapartida, uma amostragem da minha experiência durante os 30 dias da residência. Como todo programa de arte contemporânea, não exigia um formato específico, poderia ser um diário, blog, relatos fotográficos, desenhos, esboço, caderno de anotações, relatos audio visuais. Ou seja, pediram em suma, que apresentasse documentos de processo de criação.
Apesar das primeiras publicações serem a apresentação de documentos de processo, termo usado pela professora e amiga Cecília Salles, colhidos durante a residência, desejo continuar com este espaço aberto para mostrar, deixar exposto a maneira como trabalho, enquanto estou trabalhando. É um exercício de mostrar o processo em pleno processo de criação. De uma forma ou outra já faço isso em meu perfil no Instagram. Abrir uma outra ferramenta que forneça suporte as outras já existentes me parece uma decisão que contribuirá para tornar público as andanças em busca de um trabalho artístico global.
Espero que estes relatos possam ser escritos em muitas paisagens diferentes, como nesta que estou agora, uma mesa de madeira, onde acomodei perfeitamente minhas coisas, em uma casa para artistas, num bairro periférico de uma cidade interessante, em um país de cor, cheiros fortes e muita vibrações.
Convido vocês a traçar comigo estes percursos.
Que seja uma boa e divertida viagem.